Saiba um pouco mais sobre o manejo de doenças de relevância agronômica para a agricultura brasileira

Por Gabriela S. Rolim1,2, Bruno W. Ferreira1,3, Hígor S. Rodrigues 1,4 e Hélvio G. M. Ferraz 1,5

1Pesquisa e Desenvolvimento, Agrobiológica Sustentabilidade S. A., Itápolis, SP, Brasil. 2Pesquisador Nematologia, e-mail: gabriela.rolim@agrobiologica.com.br 3Pesquisador Fitopatologia, e-mail: bruno.ferreira@agrobiologica.com.br 4Pesquisador Entomologia, e-mail: higor.rodrigues@agrobiologica.com.br 5Diretor de P&D, e-mail: helvio.ferraz@agrobiologica.com.br

Os fitonematoides são microrganismos que compõem um diverso grupo de vermes não-segmentados de grande importância econômica para agricultura. Eles são responsáveis por causar perdas consideráveis em diversas culturas como algodão, soja, batata, tomate, café, entre outras. Essas perdas podem se traduzir em bilhões de dólares em prejuízos anualmente em todo o mundo, afetando não só os agricultores, como também os consumidores, que podem ser impactados com aumento nos preços dos alimentos devido à diminuição da oferta. Somente na safra 2022-23 os fitonematoides causaram perdas na ordem de R$ 35 bilhões de reais aos agricultores brasileiros, na cultura da soja a perda foi estimada em R$ 15 bilhões de reais (LONGHI, 2022).

Os nematoides têm uma relação parasitaria com uma ampla variedade de cultivos. Eles se alimentam dos órgãos subterrâneos das plantas (raízes, rizomas, tubérculos, bulbos e fruto hipógeo), causando danos significativos e, consequentemente, impactando a produção agrícola. Esses danos comprometem a capacidade das plantas de absorver água e nutrientes vitais, o que resulta em sintomas na parte aérea, como amarelecimento, murcha e subdesenvolvimento, frequentemente confundidos com deficiência nutricional.

Entre os nematoides de importâncias agronômica no Brasil, destacam-se espécies dos gêneros Meloidogyne (nematoides das galhas), Heterodera (nematoides do cisto), Pratylenchus (nematoides das lesões radiculares) e Rotylenchulus (nematoides reniformes). Neste artigo, exploraremos algumas características e impactos do gênero Meloidogyne.

O gênero Meloidogyne é reconhecido como o mais prejudicial pelos nematologistas em todo o mundo. No Brasil, as espécies de maior importância são M. incognita e M. javanica devido à sua ampla distribuição geográfica e por serem polífagas (possuem uma grande gama de espécies hospedeiras).

O ciclo de vida desse gênero abrange as fases de ovo, juvenis (J1, J2, J3 e J4) e adultos, com uma duração média de duas a quatro semanas. Essa duração pode variar devido às condições ambientais, principalmente temperatura e umidade. O primeiro estádio juvenil (J1), que se desenvolve após a embriogênese, sofre uma muda ainda dentro do ovo e transforma-se no segundo estádio (J2). Após a eclosão, o J2 é o estágio móvel que busca ativamente uma nova planta hospedeira, sendo o estágio infectante. Depois de entrar na raiz e estabelecer o local de alimentação, o J2 sofre três novas mudas até atingir o estádio adulto. As fêmeas são distintas por suas galhas nas raízes das plantas hospedeiras, onde depositam seus ovos. Essas galhas são causadas pela estimulação das células das raízes das plantas para formar tecido semelhante a inchaços, que servem como locais de alimentação e reprodução para os nematoides (FREITAS, 2006; MOENS et al., 2009).

À medida que as galhas se desenvolvem são observados deformações e distúrbios no sistema radicular. Isso impede que as plantas absorvam água e nutrientes essenciais do solo, levando a um déficit hídrico e nutricional e, consequentemente, redução da taxa de fotossíntese. Como resultado, as plantas hospedeiras ficam enfraquecidas e são mais suscetíveis a estresses ambientais, como a seca e altas temperaturas.

O controle de fitonematoides pode ser desafiador, devido à dificuldade de detectar os sintomas de forma precoce. Os primeiros sinais de infestação são muitas vezes vagos, o que pode ser facilmente confundido com deficiências nutricionais ou estresses hídricos.

As estratégias de manejo incluem rotação de culturas, o uso de plantas de cobertura resistentes, e o uso de nematicidas. No entanto, há uma preocupação crescente em relação ao uso de nematicidas sintéticos devido aos seus impactos negativos no meio ambiente, à saúde humana e à persistência no solo. Além disso, muitas vezes, os pesticidas não são eficazes o suficiente para controlar de forma adequada as populações de nematoides, o que pode resultar em perdas econômicas significativas nas colheitas.

Entre os principais agentes de controle biológico com ação nematicida, destacam-se o fungo Purpureocillium lilacinum (= Paecilomyces lilacinus). Esse fungo exibe um comportamento de parasitismo facultativo, uma vez que, além da sua capacidade saprófita no solo, tem a capacidade de infectar tanto as formas móveis quanto as sedentárias dos nematoides, com ênfase especial no parasitismo de ovos (SHARMA & TRIVEDI, 2012).

O nematicida biológico Nemakill®, marca registrada da Agrobiológica, à base do fungo Paecilomyces lilacinus, possui excelente eficiência no manejo de ovos de M. incognita, além de infectar suas fases móveis (J2) e fêmeas sedentárias, influenciando na capacidade reprodutiva dos nematoides. O produto pode ser utilizado em qualquer cultura com ocorrência desse fitonematoide. Sua aplicação pode ser realizada via drench ou pulverização no sulco, antes do transplante das mudas ou antes da semeadura.

Fig. A – Reboleira em campos de soja causado por nematoides do gênero Meloidogyne.
Fonte: Travis Faske, University of Arkansas – Division of Agriculture, Bugwood.org
Fig. B – Sintomas de galhas causado por
nematoides do gênero Meloidogyne em raízes
de soja.
Fonte: Vanessa Passaglia
Fig. C – Sintomas de galhas em hortaliças de importância agronômica causado por nematoides do gênero Meloidogyne.
Fig. D – Espécime do gênero Meloidogyne. a) ovo, juvenil de 2º e 3º estádio; b) juvenil de 4º estádio; c) macho adulto; d) fêmea adulta.
Fonte: Vanessa Passaglia

REFERÊNCIAS

FREITAS, L. G. Introdução à nematologia. Universidade Federal de Viçosa, 2006.

LONGHI, V. M. Manejo ajuda a lidar com nematoides na safra de soja 22/23. Revista Cultivar, 22 dez. 2022. Disponível em: https://revistacultivar.com.br/noticias/manejo-ajuda-a-lidar-com-nematoides-na-safra-de-soja-2223. Acesso em: 06 nov. 2023.

MOENS, M.; PERRY, R. N.; STARR, J. L. Meloidogyne species-a diverse group of novel and important plant parasites. In: Root-knot nematodes. Wallingford UK: CABI, 2009. p. 1-17.

SHARMA, S.; TRIVEDI, P. C. Application of Paecilomyces lilacinus for the control of Meloidogyne incognita infecting Vigna radiata. Indian Journal of Nematology, v. 42, n. 1, p. 1-4, 2012.

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